Dando continuidade ao projeto conscientização dos técnicos em prótese dentária, convidei o Tpd Waldir da Silva Barros a nos relatar sua experiência relacionada a Dermatite de Contato,que prontamente aceitou o convite. Leia abaixo :
Sou Técnico em Prótese Dentária e atuo na área de ortodontia, confeccionando os aparelhos removíveis solicitados pelos dentistas. Assim como centenas de colegas, eu tinha um contato muito íntimo com Metacrilato de Metila. Aliás, íntimo até demais, pois mergulhava os dedos no monômero de metacrilato de metila para poder distribuir e alisar a massa acrílica sobre o modelo de gesso. Esse material é classificado como “material perigoso” e sua ação é irritante para o sistema respiratório e pele, além de inflamável. Pode provocar sensibilização em contato com a pele e esse efeito tem o agravante de ser cumulativo. Bingo ! Dermatite de contato se manifestando.
Exemplo de contato direto com Acrílico Auto Polimerizável |
Pois bem, depois de quase uma década de tanta intimidade, um dia a pele e as unhas da mão direita não suportaram mais. Primeiro surgiu um ardor e intensa coceira, que mesmo depois de lavar em abundante água corrente, não passou. Em poucas horas pequenas fissuras surgiram na pele e em poucos dias a epiderme se soltou, descascando toda a região das falanges distais, deixando à mostra a hipoderme. Naturalmente, suspendi o uso do material e entrei em contato com o fabricante. Achando que a fórmula havia sido modificada, eu indaguei sobre esse fato e soube que nada havia mudado. Lembrei-me de alguns colegas que tiveram uma reação alérgica por exposição a esse material e caí na real: sou mais uma vítima da inobservância de normas de segurança. Não usava EPI´s, não usava luvas, não usava uma técnica que evitasse o contato tão direto e íntimo com o metacrilato de metila.
Foto do polegar do Tpd, em uma das fases da Dermatite de Contato |
Procurei orientação médica e fiz um tratamento longo para reduzir os efeitos, mas soube que nunca mais....isso mesmo...nunca mais deveria me expor ao material. Mas como fazer isso, se essa é a minha profissão? O dermatologista me indicou luvas de nitrila, pois são específicas para contatos com produtos químicos. Na fase aguda, o tratamento durou mais de um ano, com aplicação de pomadas anti-histamínicas, anti-inflamatórias e cremes hidratantes manipulados sob orientação médica. Pensei em parar com a profissão e mudar de área, haja vista que o problema regredia e voltava de tempos em tempos, mesmo com a completa supressão do contato com o material. E tinha outro agravante: como as unhas se enfraqueceram fraturavam com freqüência, causando lesões secundárias que inflamavam. Também, e por causa da sensibilidade na pele nova que se formava, até colocar as mãos no bolso era arriscado, pois causava ferimentos na região.
Hoje convivo com a Dermatite de contato, até que me dou bem com ela, a trato com respeito, afinal estaremos juntos até o fim da minha existência. Mas não dou chance para que ela se manifeste, pois sei bem do quê ela é capaz. Portanto, colega protético, não menospreze os EPI´s, use luvas de nitrila, use máscaras com filtros específicos, pois os efeitos também podem ser no sistema respiratório, causando danos muito mais sérios.
Proteja-se, pois você pode desenvolver uma dermatite de contato, se não se cuidar.
Waldir da Silva Barros é Técnico em Prótese Dentária pela Escola Alfredo José Balbi / UNITAU ,Especialista em Ortodontia pela SEAPRO - São José dos Campos/SP, Técnico credenciado VIPI/STG,Colunista do informativo Vipi news, Colunista colaborador do informativo APSORE.
Erika Leite : Agradeço imensamente a colaboração do colega Waldir pelo depoimento, acredito e torço para que muitos leitores tomem atitude em seu benefício próprio, não só quanto a Dermatite de Contato, mas também a todas outras possibilidades que estamos expostos em nosso dia a dia laboratorial. Lembrando a todos que tudo poderá ser prevenido e evitado desde que tenhamos conhecimento e ações de Segurança no nosso Trabalho.